quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Estômago

arte de duy huynh

"Eram os únicos passageiros no vagão pobre, de terceira classe. Como a fumaça da locomotiva continuasse entrando pela janela, a menina levantou-se e pôs em seu lugar os únicos objetos que levavam: uma sacola de plástico com coisas de comer e um ramo de flores embrulhado em papel de jornal. Sentou-se no banco oposto, longe da janela, de frente para a mãe. Ambas vestiam um luto rigoroso e pobre. A menina tinha doze anos e era a primeira vez que viajava. A mulher parecia velha demais para ser sua mãe, por causa das veias azuis nas pálpebras e do corpo pequeno, flácido e sem formas, em um vestido que parecia uma batina. Viajava com a coluna vertebral firmemente apoiada contra o espaldar do assento, segurando no colo com as duas mãos uma bolsa de verniz desbotado. (...) O trem não voltou a acelerar. Parou em dois povoados iguais, com casas de madeira pintadas de cores vivas. A mulher inclinou a cabeça e começou a cochilar. A menina tirou os sapatos. Depois foi ao sanitário para botar água no ramo de folhas mortas."
GG Márquez ("os funerais da mamãe grande") 

"Tudo é uma eterna repetição. O que já foi de novo será... Pelo menos essa é a sabedoria do Eclesiastes. Conta-se que durante a segunda guerra mundial, na divisa entre Suíça e Alemanha, estavam duas guarnições militares: a alemã, do lado da Alemanha e a suíça, do lado da Suíça. Os soldados nazistas resolveram dar um presente aos suíços. Enviaram-lhes uma caixa própria de presentes. Quando os guarda suíços a abriram estava cheia de cocô alemão... Os suíços resolveram retribuir o presente. Quando os alemães abriram a caixa lá estava um lindo queijo, enorme, amarelo, perfumado, e um bilhetinho: “Continuemos assim a nos presentear com aquilo que temos de melhor...” Pulo da fronteira entre Suíça e Alemanha para Araxá, onde viveu Dona Beja... Ela era odiada por todas as mulheres honestas do lugar. Estas, movidas pelo pecado verde, a inveja. enviaram-lhe um presente: uma caixa cheia de bosta de cavalo. Ela retribuiu: enviou flores a todas as mulheres que, segundo o seu conhecimento, eram as “presenteadoras”, com um bilhetinho: “Cada um presenteia com aquilo que tem de melhor...” Mudam os tempos e os lugares, mas a liturgia é a mesma."
Rubem Alves ("ostra feliz não faz pérola")

" A família Lispector não estava entre os primeiros refugiados da cidade. Tchechelnik tinha sido fundada por refugiados, e deve até mesmo o seu nome a eles. Reza a lenda que a raiz da palavra Tchechelnik, kaçan lik, é a palavra turca para refugiado. (...) Um elaborado sistema de túneis sob as construções fornecia abrigo. Havia três corredores principais interconectados, alguns deles cavados cinco metros abaixo do chão e com dois metros de altura. A maioria das casas, e quase todas as de judeus, tinha passagens secretas para as catacumbas no subsolo. Em tempos de paz eram usadas para estocar víveres; durante as invasões, a cidade inteira desaparecia debaixo da terra, a população inteira, inclusive os animais. Os engenheiros do sistema tiveram o cuidado de dar acesso a um rio subterrâneo, onde os bichos podiam matar a sede."
Benjamin Moser ( na biografia "clarice,")

"Ela deverá estar próxima à árvore da poesia, que é a eternidade vestida com as folhas verdes do tempo."
R.S Thomas
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Palavra Roubada

“Ficar com muita gente é fácil”, diz um amigo meu, com pouco mais de 25 anos. “Difícil é achar alguém especial”.
Faz algum tempo que tivemos essa conversa. Ele tentava me explicar por que, em meio a tantas garotas bonitas, a tantas baladas e viagens, ele não se decidia a namorar.
Ele não disse que estava sobrando mulher. Não disse que seria um desperdício escolher apenas uma. Não falou em aproveitar a juventude ou o momento e nem alegou que teria dificuldade em escolher. Disse apenas que é difícil achar alguém especial.
Na hora, parado com ele na porta do elevador, aquilo me pareceu apenas uma desculpa para quem, afinal, está curtindo a abundância. Foi depois que eu vim a pensar que existe mesmo gente especial, e que é difícil topar com uma delas.
Claro, o mundo está cheio de gente bonita. Também há pessoas disponíveis para quase tudo, de sexo a asa delta. Para encontrar gente animada, basta ir ao bar, descobrir a balada, chegar na festa quando estiver bombando. Se você não for muito feio ou muito chato, vai se dar bem. Se você for jovem e bonita, vai ter possibilidade de escolher. Pode-se viver assim por muito tempo, experimentando, trocando de gente sem muita dor e quase sem culpa, descobrindo prazeres e sensações que, no passado, estariam proibidos, especialmente às mulheres.
Mas talvez isso tudo não seja suficiente.
Talvez seja preciso, para sentir-se realmente vivo, um tipo de sensação que não se obtém apenas trocando de parceiro ou de parceira toda semana. Talvez seja preciso, depois de algum tempo na farra, ficar apaixonado. Na verdade, ficar apaixonado pode ser aquilo que nós procuramos o tempo inteiro – mas isso, diria o meu jovem amigo, exige alguém especial.
Desde que ele usou essa fatídica expressão, eu fiquei pensando, mesmo contra a minha vontade, sobre o que seria alguém especial, e ainda não encontrei uma resposta satisfatória. Provavelmente porque ela não existe.
Você certamente já passou pela sensação engraçada de ouvir um amigo explicando, incansavelmente, por que aquela garota por quem ele está apaixonado é a mulher mais linda e mais encantadora do mundo – sem que você perceba, nela, nada de especial. OK, a garota é bonitinha. OK, o sotaque dela é charmoso. Mas, quem ouvisse ele falando, acharia que está namorando a irmã gêmea da Mila Kunis. Para ele ela é única e quase sobrenatural, e isso basta.
Disso se deduz, eu acho, que a pessoa especial é aquela que nos faz sentir especial.
Tenho uma amiga que anda apaixonada por um sujeito que eu, com a melhor boa vontade, só consigo achar um coxinha. Mas o tal rapaz, que parece que nasceu no cartório, faz com que ela se sinta a mulher mais sensual e mais arrebatada do planeta. É uma química aparentemente inexplicável entre um furacão e um copo de água mineral sem gás, mas que parece funcionar maravilhosamente. Ela, linda e selvagem como um puma da montanha, escolheu o cara que toma banho engravatado, entre tantos outros que se ofereciam, por que ele a faz sentir-se de um modo que ninguém mais faz. E isso basta.
É preciso admitir que há gente que parece especial para todo mundo. Não estou falando de atores e atrizes ou qualquer dessas celebridades que colonizam as nossas fantasias sexuais como cupins. Falo de gente normal extremamente sedutora. Isso existe, entre homens e entre mulheres. São aquelas pessoas com quem todo mundo quer ficar. Aquelas por quem um número desproporcional de seres humanos é apaixonado. Essas pessoas existem, estão em toda parte, circulam entre nós provocando suspiros e viradas de pescoço, mas não acho que sejam a resposta aos desejos de cada um de nós. Claro, todo mundo quer uma chance de ficar com uma pessoa dessas. Mas, quando acontece, não é exatamente aquilo que se imaginava. Você pode descobrir que a pessoa que todo mundo acha especial não é especial para você.
Da minha parte, tendo pensado um pouco, acho que a pessoa especial é aquela que enche a minha vida. Ela é a resposta às minhas ansiedades. Ela me dá aquilo que eu nem sei que eu preciso – às vezes é paz, outras vezes confusão. Eu tenho certeza que ela é linda por que não consigo deixar de olhá-la. Tenho certeza que é a pessoa mais sensual do mundo, uma vez que eu não consigo tirar as mãos dela. Certamente é brilhante, já que ela fala e eu babo. E, claro, a mulher mais engraçada do mundo, pois me faz rir o tempo inteiro. Tem também um senso de humor inteligentíssimo, visto que adora as minhas piadas. Com ela eu viajo, durmo, como, transo e até brigo bem. Ela extrai o melhor e o pior de mim, faz com que eu me sinta inteiro.
Deve ser isso que o meu amigo tinha em mente quando se referia a alguém especial. Se for isso vale a pena. As pessoas que passam na nossa vida são importantes, mas, de vez em quando, alguém tem de cavar um buraco bem fundo e ficar. Essas são especiais e não são fáceis de achar. "
Ivan Martins, colunista da revista Época
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Capitoso som
dica da fal! =)

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Minicontos sobre a falta
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"Mais um café?" "Por favor." E essa resposta se repetiria por infindas vezes, desde que a oferta fosse feita por ela. Ela possuia uma beleza de poucas (e para poucos) e seu charme nada distraído era desconcertante. E ele, já tendo o desconcerto como casa, sentava na terceira mesa da direita e passava seus fins de dia observando o passar daquela mulher. Pra lá, pra cá. Comia tortas, beliscava omeletes e bebia chás de odores suspeitos com calma e entrega invejáveis. Passeava pelo cardápio com dedicação, como se passeasse por ela. Ela era sempre leve, chamava-o pelo nome e, vez ou outra, fazia um comentário ácido e saía rindo com o cantinho da boca. Leve e ácida. E ele queria tudo: a fala, o riso, a pressa, o toque, a impaciência, o beijo, a rispidez, a meninice, o vigor, o confronto, o conforto, o cheiro, o cheiro, o cheiro. Mas lhe faltava a primeira palavra. Todo dia, antes de abrir a porta do café, ele olhava para seu reflexo no vidro e dizia pra si mesmo um claro "hoje" . A palavra primeira entrava com ele mas não saía da boca para chegar até ela. Nunca era hoje. Aí ele ficava ali, vendo ela passar, repontuando as letras do cardápio e escrevendo contos longos sobre guerreiros desbravadores. Escrevia tantas para achar a uma que lhe faltava.

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Ela comeu só metade da maçã. Não precisava se fartar. Naquela hora, precisava de quase nada. Não "entoou hinos", não chorou rios, não gritou farpas. Não precisava se fartar. Apenas abraçou seu luto em pequenina reclusão. Sofria um pouco pelo perdido, um pouco pelo tempo cedo, um pouco pelo que queria. Mas sofria mesmo por conhecer de data aquele talento que ela tinha. Sabia que sabia esquecer como ninguém. Sabia bem que sabia viver sem. E por isso sofria.
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terça-feira, 30 de agosto de 2011

Hã biloute?

lua recebendo o dia que chega em piri

¨¨ Brasólis segue em secura quase sem fim...
¨¨ Fim de semana em Pirenópolis teve de tudo um pouco: quietude, tempo largo, fogos, padre madrugueiro ensandecido, céu lindo a qualquer hora, "coincidências" boas ("nosso ciclo de estresse é o mesmo" rs!), comida farta, leitura, escrita, sono bom, capoeira, água gelada, alturas, voos e sabores novos.
¨¨ Guilherme disse que lá rola uma parceria com os insetos: eles não picam os de casa se os de casa sempre levarem carne nova. E é fato. Tenho 567 pontos vermelhos "coçantes" espalhados pelo corpo pra comprovar o sucesso do acordo firmado.  =)
¨¨ Agradecimentos todos ao pessoal do santuário de vida silvestre vagafogo e da cerrado aventuras pela acolhida com carinho, descontração e profissionalismo. Agradecimentos especiais à Izione Rabelo, estudante do curso de Turismo da Universidade Estadual de Goiás em Pirenópolis, cujo Trabalho de Conclusão de Curso é sobre inclusão social do Deficiente Visual através do turismo de aventura. O convite da Izione proporcionou uma experiência única aos nossos DVs atletas e o Projeto DV na Trilha se sente honrado em poder contribuir de alguma forma para que essa idéia tome corpo e que a inclusão se espalhe Brasil afora. Valeu, Izione! =)
¨¨ O arvorismo foi delicioso, a tirolesa foi um grito vermelho só e o pêndulo... ahhh... SELO RECOMENDO!!! deu vontade de ficar ali voando por horas... =)
¨¨ Escrevendo pelos cotovelos, mas quase nada postável...sorry, darlings. Os "trechos esparsos sobre o amor" chegaram ao seu fim e a nova empreitada literária segue tateando terrenos fictícios com os "mini contos sobre a falta". Vou pingando um ou outro por aqui. =)
¨¨ Saudades de Coquine, Milad, Maria e Vá... essa gente querida que está SEMPRE perto.
¨¨ E á, a vida é água de rio que corre, não é vero? Deixemos correr pois.
¨¨ Beijo colorido e uma semana leve para todos nós. =)
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Palavra roubada
"Peace and Happiness:
About a month ago I went on a weekend trip to a town called Pirenopolis. It was a two hour drive from Brasilia and a welcome getaway from the administrative capital of Brazil. Pirenopolis is famous for its waterfalls and beautiful landscape. The first morning we woke up and went hiking in the mountains. It had been so long since I had been hiking and reaching the summit was a truly pleasant experience. Sitting on a rock at the top of the mountain gave me a chance to find my inner peace. It gave me a chance to remove myself from the material world and focus on strengthening my character. This leads me to a discussion I had with friends in my travel to Rio (which I will write about in my next blog entry). What is more important finding peace or happiness? For me it is categorically the former. I believe that they are not mutually exclusive, and in fact probably mutually supportive, yet still I believe that finding peace is the priority in life. I have come to an interesting conflict with the Brazilian insistence on doing whatever makes you happy. I disagree with this philosophy. I believe that sometimes we need to show restraint or better judgment given that happiness is not the end all be all. I am sorry to get all philosophical but I was hoping that by writing this I would spark this question in your minds and hopefully hear your thoughts."
Milad Pournik
Milad foi pra casa... i miss him already... =)
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terça-feira, 23 de agosto de 2011

Comunicado Meu Todo Vermelho
Venho através deste dizer que haja escudo e espada para lidar com quem não sabe lidar com a "diferença". Peraí, vou começar de novo.

Venho através deste dizer que o olhar para o "diferente" pode, pasmem, prescindir de espanto. Hum... bom, mas não.

Venho através deste dizer que o rotulinho "diferente" cola mais na boca de quem prega do que na testa de quem o recebe. É vero, mas ainda não. A última, prometo.

Venho através deste falar sobre o entre aspas. Pronto. Pluscuamperfecto.
Ok, partamos (ói que phino) da premissa básica que diz que tudo nessa vida depende da perspectiva (dormir por cinco horas seguidas pode vir com um gosto de UAU para quem sabe das tormentas da insônia sem trégua, darlings). Pois sim, aí você junta seus valores, desejos, desgostos, etc, dá um laço com seu modus operandi e VOILÁ : toda e qualquer coisa fora do seu pacote é, hum, "diferente". E é "diferente" mesmo, nada de errado em usar essa classificação. Três vivas para a genuína beleza da diversidade humana. Digo amém. O que me grila é o arzinho pejorativo que tantas vezes acompanha a palavra. E dessa turma, dos que abraçam o pejorativo como acompanhamento, há os que soltam um ui, olham com nojinho e se afastam. Esses não me importam. Que se assuste quem é de susto. Ponto. Os que me apavoram são os que querem, ai, te salvar de você mesmo, por que o "diferente" é, ai de novo, "errado". Me amedronta a pretensão de que o bom pra você é a formula única de felicidade para o outro. Tudo bem em, sei lá, dar um ou outro toque na boa para fazer o "diferente" refletir sobre uma coisa ou outra, bem na linha "fica a dica". Mas me assombra nêgo querer te impôr sua própria receita afirmando que tudo na sua vida "dá errado" por que você pensa e age, Deus nos livre e guarde, de um jeito "diferente". Será que esse ato de "salvamento" é mesmo motivado pelo bem-querer? E se for, será que não está rolando aí uma pitada pesada de incompreensão e preconceito em relação às coisas que estão fora do seu mini nicho, já que "diferente" é tido como sinônimo de "errado"? Ou será que a insegurança em relação ao próprio modelo é tão grande que você precisa provar que o "diferente" é "errado" para poder dormir sossegado? Não sei. Sinceramente, sinceramente mesmo, não sei.
Ficam aí as perguntinhas.

E á, "salve"-SE quem puder.
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segunda-feira, 22 de agosto de 2011

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Cheiro ocre
Eu me traio. Quase que compulsivamente. Não me traio no papel, mas me traio em pensamentos e em uma ou outra atitude enferrujada. Eu secretamente bolo planos mirabolantes, arquiteto complôs infalíveis e me traio. Na noite calada, quando minha atenção fica mais leve, penso em estratégias para me driblar, floreio conformismos, desamarro medos infantis, encorajo cada resistência boba e me traio. Perfumo venenos com maestria, assim, escondida de mim, e me traio. E quando percebo já estou traída, vencida. Mas nada em mim carrega o sorriso vencedor.
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Capitoso som

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quinta-feira, 18 de agosto de 2011

O que me acorda ou faz dormir

"sonho o poema de arquitetura ideal
cuja própria nata de cimento encaixa palavra por palavra
tornei-me perito em extrair faíscas das britas e leite das pedras.
acordo!
e o poema todo se esfarrapa, fiapo por fiapo.
acordo!
o prédio, pedra e cal,
esvoaça como um leve papel solto à mercê do vento e evola-se,
cinza de um corpo esvaído de qualquer sentido
acordo!
e o poema miragem se desfaz desconstruído
como se nunca houvera sido.
acordo!
os olhos chumbados pelo mingau das almas e os ouvidos moucos
assim é que saio dos sucessivos sonos:
vão-se os anéis de fumo de ópio
e ficam-me os dedos estarrecidos.
metonímias, aliterações, metáforas, oxímoros sumidos no sorvedouro.
não deve adiantar grande coisa permanecer à espreita
no topo fantasma da torre de vigia
nem a simulação de se afundar no sono.
nem dormir deveras.
pois a questão-chave é: sob que máscara retornará o recalcado?"
Waly Salomão

"Posso aprender a viver assim. Com medo da hora, na ponta dos pés, com sangue nos olhos, com ódio no coração, com círculos de fogo em volta. Não me provoque."
Fal Azevedo
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quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Por que amo os Cosenzas
Tudo começou quando Tio Gilmar resolveu fazer uma surpresinha de aniversário para a sua amadíssima, a Tia Cachaça (diz ela que não sabe de onde surgiu esse apelido. Sei.). A comemoração foi um desbunde, com direito a passeio de helicóptero, jantar romântico e noite em hotel 5 estrelas. Tia Cachaça está nas nuvens. Tio Gilmar agora é venerado pelas mulheres da família e passou a carregar o sobrenome "Redford" acompanhando o Cosenza. Os homens da família?? Eles estão PUTOS por que o Gilmar Redford inflacionou o mercado e plantou a semente da discórdia em seus lares. O grupo de emails da família pegou fogo com manifestações de apreço e desapreço e trago aqui duas mensagens: uma do Tio Gilvan, vulgo corrosivo, e de sua adorada esposa, Tia Beth.

"Gilmar,
Comunico que em reunião extraordinária, realizada após a visualização das fotos, a Associação dos Maridos decidiu por unanimidade aplicar-lhe pena de suspensão e advertência máxima por atitude imprópria, inadequada, inusitada e que constitui um péssimo exemplo de fraqueza e comprometimento dos ideais de seus iguais.
Todas as apurrinhações, amolações, falações, chantagens, citações de atitudes, comparações e qualquer outro evento adverso por parte das outras esposas serão consideradas provas irrefutáveis e indefensáveis do erro de sua atitude e podem aumentar a pena imposta.
E tenho dito.
Gilvan

" Precisa ficar preocupado não, honorável Presidente da Associação dos Maridos. Se algum dia, por força do inusitado e do inexplicável, você me convidasse para uma volta de helicóptero, eu não ia nem morta, de medo de você me jogar lá de cima. Então, não se preocupe com a ENORME, IMENSURÁVEL, IMPONDERÁVEL, INCONTESTÁVEL inflação que o Gilmar Redford impôs ao mercado conjugal. Não vai nos afetar. E tenho dito também.
Beth"

Dá pra não AMAR esse povo??? rs! =)
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segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Vermelho
no nome desse, na atitude nova, na intensidade de tudo que me toma (raiva, cansaço, ansiedade, pressa, putice, pique, amor), no limite gritado, nas noites varadas, no cuspir de marimbondos, na manhã de sábado, nas paredes e na energia daquela sala (tudo, tudo vermelho), nas rosas, nos vestidos delas, no fogo (fogo!) em volta do meu pescoço, no quasetranse, no batuque, na lua, na dança incansável que me tirava de mim me trazendo pra mim, no morango na boca e no pé, na pimenta, no borbulhar na língua, na fumaça, na risada, no abraço afetivo, no olho outro, na oração, na palavra que me disse o como me conduzir.
a cor do novo
acordo novo
o acordo meu 
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sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Por que amo a fal
ponto.

Algumas considerações sexuais
"Li no buzz do Daniel Fernandes (gente, tb quero acompanhar a produção pornô de vcs neste blog), que uma revista feminina ensina às amigas de casa, leitoras e irmãs das mais variadas denominações, que o truque pra segurar homem é: " Durante o sexo oral, coloque o pênis inteiro na boca e, depois, faça barulho de motor para criar vibrações".
E olha, tudo bem. Porque cama, né, cada faz o que bem entender, desde que não configure cárcere privado e/ou espancamento involuntário.
Mas minha pergunta pra vcs, criaturas ativas, já que somos viúva honesta, casta e recolhida deste mundo mundo sujo é: e a crise de riso? Como proceder? Porque eu, tando nessa situação, com o digníssimo todim na boca, se tento fazer barulho de autorama, tenho uma crise de riso que vai me mandar para o hospital. Nunca, nunca mais eu ia parar de rir.
Gente. E se a moda pega, a fia tb pode, em estando na função, fazer barulho do grito do Tarzã (favor não mandar comentários no LV que envolvam cipó), sirene de puliça, musiquinha de ligação a cobrar. Amiga, ponha o digníssimo inteiro (esse negócio de "inteiro", aliás, tb é sensacional. Quem escreve essas coisas?) na boca e cantarole o hino do seu time, sua ópera favorita, a musiquinha das balas de leite kids, a música do Batman!"

Fica a dica.

Vrrruuuum.

Fal Azevedo
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Eu não resisto!
malvadezas!

Frio na barriga

"E se houvesse agências de classificação de risco para avaliar o nível de confiança das pessoas?

Fiquei pensando nisso depois que a Standard & Poor’s rebaixou os Estados Unidos de AAA para AA+. O presidente Barack Obama ficou puto e, espumando chá gelado de amora pela boca, subiu no tamanco. Declarou, do alto de sua soberba cheirando a hambúrguer queimado, que o seu país foi e sempre será AAA.

Sinto avisar, mister presidente: no momento, os Estados Unidos não passam de HAHAHA…

Mas não é sobre a situação periclitante do mercado financeiro mundial que quero falar neste meu primeiro texto para o Malvadezas. Seria assunto aborrecido demais para uma estreia com frio na barriga. O que me interessa são as pessoas, o comportamento das pessoas. E, no caso deste post, o quanto podemos confiar nas pessoas.

A gente até tem as nossas “agências de classificação de risco” particulares. São aqueles amigos que vivem nos alertando para o perigo de investir nesse ou naquele sujeito. Em algumas situações, a gente ouve, percebe a enrascada em que está se metendo e evita um baita prejuízo lá na frente. Em outras, ignoramos a luzinha vermelha e pagamos pra ver.

Eu sou do tipo que prefere pagar pra ver, sabe? E já me estrepei muito por causa disso. Já arrumei emprego pra babaca que depois me sacaneou. Já fui fiel a quem me traía até com o pepino. Já emprestei dinheiro a mau pagador. Já caí na lábia de vendedor vigarista. Já confundi sorrisos simpáticos com sorrisos interesseiros.

Viver é basicamente isso: correr riscos. E, vez e outra, pagar de otário.

Outro dia, no ponto de ônibus, vi um homem agarrado ao seu guarda-chuva. Não chovia nem parecia que ia chover. Mas o homem era sujeito precavido. Não queria ser flagrado de calças curtas. Pessoas assim, que nunca saem de casa sem guarda-chuva, parecem esperar sempre pelo pior e desconfiam até da própria sombra. Acho-as tristes.

Sei que o ser humano, de um modo geral, não é lá muito confiável. De um dia para o dia seguinte pode desabar de um AAA para um D, o nível mais baixo de confiabilidade, segundo a tal agência que irritou o Obama. Ainda assim, penso que vale o risco – e se chover, dane-se o guarda-chuva.

Foi confiando que vivenciei momentos incríveis, conheci as pessoas mais legais e conquistei ótimas oportunidades profissionais. Foi confiando que também caí de bunda no chão várias vezes. Assim é. Resta saber o quanto estamos dispostos a arriscar para sermos surpreendidos pela vida.

Afinal, sem a emoção de um friozinho na barriga quem suporta o dia após dia? "

Marcos Guinoza
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Porcas Borboletas
Rá!
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Pode simsim ou Hum²
Dias com 30 horas, no mínimo, finais de semana feitos de sábado, sábado e domingo e que toda quarta seja feriado, assim, pra dar uma quebrada no trem. Pode ser? Digo isso por que vai tudo muito bem, obrigada, mas tá faltando tempo. O dia começa ridiculamente cedo, segue a galope, a noite mal cai e eu já tô imprestável de tão cansada. Só me sobra energia pra arrumar as coisas pro amanhã, ler um pouco e ponto. Sem falar nas (in)quietudes tempestivas que me sacodem na madrugada e me deixam desperta, virada do avesso nas folhas do caderno. Sei que é tudo escolha minha, que se quiser posso romper com a malhação, pedir exoneração, fazer um dois dedos passando na testa pro estudo, pendurar o essencial nas costas e pagar de amélie polain em algum café em uma cidadezinha da França. Ir pro trabalho de patins ... HUM! Mas não, agora não. Ainda não. =). A hora de agora é dessa rotina mesmo, que segue bem, e eu só estou aqui despejando meu mimimi melodramático por que o cerumano é simsim a versão de carne e ambulante daquela canção do queen:" I want it all, I want it all and I want it now.". A gente quer ralar, ganhar dinheiro, correr atrás dessas "coisas mundanas" (como diria a cínthia...hehehe) e se sente bem em ver que está quicando de tão produtivo. Mas falta tempo. A gente quer mais. Mais tempo pros amigos (por favor!), mais tempo pra malhar, pra ler, pra escrever, pra cozinhar, pra dançar, pra aprender a tocar pandeiro, pra praticar aqueles ensinamentos, e, especialmente, pro NOVO. A gente quer mais tempo pra ser. E pra simplesmente não ser também. A gente quer tudo e quer agora. E não se contenta nem com um pouquinho de tudo. A gente quer sempre mais. Que bom. E que burro. Nem sei. Sei que minha intenção era falar sobre o aproveitar bem cada fase da vida, viver com gana mas sem deixar o equilíbrio de lado, blábláblá... mas vou não. Já são 5 am, esse é o quarto devaneio da madrugada, é quase hora de levantar e eu tô cansada demais pra terminar esse textin bobo. Fica assim, sem final mesmo. Pode ser? Claro que pode. É tudo escolha minha, não é vero? Hum! Bonito isso.
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quinta-feira, 11 de agosto de 2011

É, tá assim
bom tb...

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quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Receitinha Quartana
Durma bem, escreva a rodo e fale com milad na madrugada
Acorde o sol em corrida
Lave o cansaço em banho com cheiro de maracujá
Vista aquela saia que você adora
Deixe as costas de fora
Suba no salto
Compre uma pêra
Tempere o café preto com fal, clarice e algo novo
Coloque "reptilia" dos strokes nos ouvidos
Cante com boca, ombros e pés
Aí, então, (re)comece o (já) bom dia
Em Brasília, oito horas e trinta e dois minutos
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Hum!

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segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Estômago

arte de duy huynh. e saudades da vá

" Ela acreditava nas previsões atmosféricas dos calos de Carmichael. Olhou a pracinha desolada, as casas silenciosas cujas portas não se abriram para ver o enterro de José Montiel e então se sentiu desesperada com suas unhas, com suas terras sem limites e com os infinitos compromissos que herdara do marido e que jamais conseguiria compreender. - O mundo está mal feito - soluçou. Os que a visitaram por esses dias tiveram motivos para acreditar que ela perdera o juízo. Nunca, porém, esteve mais lúcida do que então. Desde antes de começar a matança política ela passava as lúgubres manhãs de outubro diante da janela de seu quarto, compadecendo-se dos mortos e pensando que se Deus não tivesse descansado no domingo teria tido tempo para acabar o mundo. - Devia ter aproveitado esse dia para não deixar tantas coisas mal feitas - dizia. - Afinal de contas, ele tinha toda a eternidade para descansar."
GG Márquez (em "os funerais da mamãe grande")

"Na verdade só sabemos quão pouco sabemos - com o saber cresce a dúvida."
Goethe

"Uma pessoa comum maravilha-se com coisas incomuns; um sábio maravilha-se com o corriqueiro."
Confúcio

"Me beijou, ainda sorrindo e com o lenço encostado no nariz. Na hora de fechar o bar, fomos para onde eu morava. Tinha um pouco de cerveja na geladeira e ficamos lá sentados, conversando. E só então percebi que estava diante de uma criatura cheia de delicadeza e carinho. Que se traia sem se dar conta. Ao mesmo tempo que se encolhia numa mistura de insensatez e incoerência. Uma verdadeira preciosidade. Uma jóia, linda e espiritual. Talvez algum homem, uma coisa qualquer, um dia a destruísse para sempre. Fiquei torcendo para que não fosse eu."
Charles Bukowski (em "crônica de um amor louco")
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Pois sim
na passagem miúda do tempo
veio a mim um isso
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ST (IM já elvis) em: "Changes"
Tata: izaaaaaaaaaaaaa
Iza: tataaaaaaaaaaaaaaaaa  ontem o restaurante reabriu!!! 
Tata: e aí? vcs foram la?
Iza: simsim. tá tudo diferente. ficou em um estilo meio retrô. tudo verde, laranja e bege
Tata: serio? mas ficou bonito?
Iza: tem gosto pra tudo né darling  rs!
Tata: kkkkkkkkkkk  e a comida é a mesma? aumentou o preço?
Iza: o preço é o mesmo, mas a comida tá melhor
ontem teve grão de bico! mas sei que isso não é novidade e é sensacional só pra mim
mas teve dois tipos de lasanha
Tata: noooossa.. serio?
Iza: juro
Tata: que avanço
Iza:  pois sim. e jeann disse que nunca mais volta lá
 por que eles tiraram todas aquelas mesas antigas e colocaram mesas redondas para doze lugares
o que quer dizer que a gente tem que sentar com outras gentes
arg. nojinho
Tata: afffffffffff ... mentira! ridiculo!
Iza: ridículo ponto
e além disso
ficam rolando umas dinâmicas de grupo nas mesas. e agora o uniforme de todos os atendentes é mini saia plissada, blusa decotada, meião e patins.
os garçons inclusive
Tata: kkkkkkkkkkkkkkkk
Iza: e te digo : decote em peito peludo não é uma visão apetecedora para a hora do almoço. rs! mas é bom pra emagrecer. meu prato deu 1,50. =)
Tata: ai credo.. e hj vcs vao de novo la?
Iza: só vou se jeann for. rs!
e á, mais uma info
de tudo que eu falei, a única verdade é que teve grão de bico =)
Tata: da proxima vez vou perguntar pra outra pessoa
Iza: rs!!... sábia tataaaaa
tá tudo igualzinho, minha flor. reformaram NADA
bem suspeito, eu diria
Tata: na hora do almoço eu vejo.. pq agora nao acredito mais
Iza: rs cavalar!!!!

Nath:estou me acabando de rir aqui...kkkkkkkkkkkkkkkkk...mas sabe pq Tata não percebeu? pq vc esqueceu do detalhe denunciador das comidas em esteiras rolantes...hehehe.
Iza: que falha minha,nath! como pude esquecer das esteiras rolantes??? imperdoável.
Jeann: Tatá, não confie em nada do que ela disser... Ela arquitetou, SOZINHA, esse plano para te enganar. Deixe pra tirar suas conclusões quando vc mesma vir como ficou bonitinho o novo uniforme das atendentes e como o globo de luz no teto deu um charme legal no ambiente. :)
Iza: é vero. SOZINHA ahãm.beijomaiza
César: Isso que é crueldade! talvez devessemos encaminhar para o diretor do filme para ele fazer o Jogos Mortais XXX...hehehehehe
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Diz o Pai dois pontos
rever: "ver com atenção, examinar cuidadosamente com o intuito de melhorar; fazer revisão de, emendar, corrigir."
reavaliar: "avaliar de novo."
reajustar:"tornar a ajustar; recolocar no lugar conveniente; modificar, elevar proporcionalmente."
resignar:"submeter-se sem revolta a; acatar; conformar-se."
reagir: "opor a uma reação outra que lhe é contrária."
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quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Plutoemos pois
Quero ir para Plutão. Passagem só de ida. Em um busanga daqueles de dois andares e quero a poltrona primeira do andar de cima, em que a frente é toda de vidro e só se vê céu, estrada e suas laterais variadas. Quero vazia a poltrona ao lado, para que eu me espalhe tranquila em movimento meu. E espalhada em veludo amarelo, me sentir assim quase pano. Quero que a viagem seja ridiculamente longa e que dê tempo de fazer muito e pouco de tudo. Ler rios, escrever cadernos, cair em cochilos, sonhar sonhos misturados, ouvir som que gosto e som novo, esticar as pernas colando os pés no vidro esquentado pelo sol, comer matula surpresa feita por um alguém querido, olhar a estrada, fazer nada. Quero dias claros e quentes, noites frias, chuvas finas, tempestades e sóis coloridos. Quero a mais genuína solidão. Quero o aconchego bom do desenlace. Quero chorar o mais triste dos choros e quero rir como nunca ri. Quero o elefantito e o ciciobelo da infância e quero neon gritante nos meus dois fios de cabelo branco. Quero conversar sozinha e depois me calar por horas. Quero contar as piadas que reprimi por serem muito más e quero achar graça nenhuma. Quero minhas unhas carmim. Quero lembrar beijos e esquecer. Ou não. Quero aquele gosto um e o cheiro leve da romã aberta. Quero leveza por completo. Quero a completude da imperfeição.

E quero viver cada sentido com o prazer de quem se despede.

Em Plutão o todo será outro.

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Quanto chico é muito chico?

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Eu não resisto!
malvadezas!

Flores de Plástico
"Pegue sua bússola, seu GPS, um calendário e algum instrumento antigo de medição do tempo de vida do universo. Agora sente-se de frente para o mundo e examine: em que ponto das história estamos? Vê aí pra gente…
Alguns dizem que talvez o Natal de 2012 seja uma grande festa de despedida. Eu não acredito mas há quem, pasme, ache que é o fim.
Nos últimos milhões de anos, a terra tem nos mostrado que FIM é um momento que não existe. Quer dizer… existe ali, naquela hora, mas todo fim é o começo de outra coisa, e vão-se os dinossauros e ficam os deuses do Egito, vão-se os Maias e ficam os argentinos e, assim o mundo acaba para uns e para outros sucessivamente até a gente cansar. A gente… porque para a Terra foi só uma puberdade, uma TPM, um dia chato, sei lá.
Mas aí que eu acho que está bem na hora de um fim outra vez. Agora, bem agora, que a terra assumiu sua porção bregona, talvez seja necessário apagar as luzes, descer a cortina e começar uma coisa nova.
Quem quer viver num mundo onde a trilha sonora é, à sua escolha, sertanejo universitário, Justin Bieber, Lady Gaga, sertanejo de raiz, Calypso, Claudia Leite, Ivete Sangalo, pagode… ai já posso morrer?
Quem quer viver sem questionar o uso de lâmpadas frias enfeiando tudo e todos?
Quem quer ir em festa onde a bebida é servida em copo de plástico?
Tá… conheço todos os seus argumentos: Beatles é velho, luz fria é mais barato sua burguesa besta fora da realidade, os pobres têm direito a festa e o copo de plástico não é problema… Nossa, como você é preconceituoso! Nem me esperou terminar o raciocínio e já veio com esse papinho de síndrome de coitadice aguda!
Veja bem, copo de plástico é simbólico. É só o símbolo do mundo descartável. Eu posso trocar tudo pra FLORES de plástico, se você preferir. Elas não são feias, elas só são falsas. Falsas como tudo o que estamos vivendo: temos celebridades que mal atingem um momento realmente célebre e já desaparecem. Temos grandes lançamentos que duram um ano e já são substituídos pelo similar mais barato – e de menos duração. Temos grandes sucessos que você não vai lembrar em dois anos. Temos hits em todas as áreas das artes, que se olhados duas vezes, são cópias da cópia da cópia de algo que já foi bom, só que pior. E a luz fria e o led… ai meu deus, como vamos sobreviver a tanta feiura? Casas feias, ruas feias, gente feia, árvores feias… tudo é um grande holofote de luz fria chapando as cores e evitando as sombras, como se fosse pecado ter forma. É mais barato sim, eu sei, mas existe lâmpada fria amarela, e ninguém sabe, ninguém compra, e tudo é desse azul defunto pavoroso, transformando até obras arquitetônicas centenárias e incríveis, numa coisa empastelada. A gente teve essa mania de baratear e “modernizar” as coisas nos anos 70, e teve neon, vidro fumê e esquadria de alumínio até em Igreja milenar. Uma lástima.
Será que eu falo das mulheres de plástico? As trogloditas fortonas com dois balões de silicone nos peitos, mais dois no rosto, coxas de jogador de futebol, tanto botox na testa que brilha como um backlight esticado por cordas super-poderosas, e beiços duros, e um preenchimento no bigode de chinês que tira as marcas naturais e cria um monstro do pântano de cara achatada. Mulheres que eram lindas e agora precisam DURAR, nem que isto custe a harmonia dos traços ou a feminilidade. Flores de plástico! Flores de plástico!
Oh horror!
E os homens com a testa triangular de tanto botox? Com o espaço entre as sobrancelhas quilômetros maior do que antes, tiraram tudo que há de mais bonito num homem, que é o olhar. Olhar? Que olhar? Os olhos redondos de plástica já haviam matado o olhar… tirar os últimos pelos da sobrancelha e esticar a testa é só o último golpe.
A gente vive nesse mundo onde ruga deixou de ser a marca do sorriso ou da vida no rosto, para ser um pecado mortal. Você é velho! Ui! Vamos esticar tudo, puxar tudo e tacar uma luz fria em cima. Flores de plástico!
E são de plástico as campanhas publicitárias e os filmes no cinema.
Ah os filmes… lembra quando Star Wars era feito com maquetes e dedicação? Agora tudo é CG e 3D e quando você vê na televisão todos os efeitos se vão e só fica a tristeza. A realidade nua e crua: você foi enganado!
Lembra quando a história era mais importante do que o efeito especial? Quando grandes dramas eram campeões de bilheteria? Agora não. Agora os estúdios não investem em drama. É muito arriscado! Quanto mais boba ou pastelão ou apocalíptica a história, mais grana: e grana é só o que importa. Porque o mundo se tornou um grande fundo verde de chroma key. E luz fria. E emoções de botox. E pesquisas do departamento de marketing de deus, onde todos os anjos de gravata amarela e as deusas de terninho azul e sapato feio dizem o que pode e o que não pode, o que é politicamente correto ou não, e mandam trocar tudo o que é belo, bom, gostoso, por um monte de lâmpada fria num fundo verde com flores de plástico.
Cadê os Maias? Acho que está na hora da gente ir encontrar com eles.
Adeus."
Mercedez Gameiro
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terça-feira, 2 de agosto de 2011

Tricô com Seu Bernardo : João versus Clarice
Os Três Mal-Amados
"O amor comeu meu nome, minha identidade, meu retrato. O amor comeu minha certidão de idade, minha genealogia, meu endereço. O amor comeu meus cartões de visita. O amor veio e comeu todos os papéis onde eu escrevera meu nome.
O amor comeu minhas roupas, meus lenços, minhas camisas. O amor comeu metros e metros de gravatas. O amor comeu a medida de meus ternos, o número de meus sapatos, o tamanho de meus chapéus. O amor comeu minha altura, meu peso, a cor de meus olhos e de meus cabelos.
O amor comeu meus remédios, minhas receitas médicas, minhas dietas. Comeu minhas aspirinas, minhas ondas-curtas, meus raios-X. Comeu meus testes mentais, meus exames de urina.
O amor comeu na estante todos os meus livros de poesia. Comeu em meus livros de prosa as citações em verso. Comeu no dicionário as palavras que poderiam se juntar em versos.
Faminto, o amor devorou os utensílios de meu uso: pente, navalha, escovas, tesouras de unhas, canivete. Faminto ainda, o amor devorou o uso de meus utensílios: meus banhos frios, a ópera cantada no banheiro, o aquecedor de água de fogo morto mas que parecia uma usina.
O amor comeu as frutas postas sobre a mesa. Bebeu a água dos copos e das quartinhas. Comeu o pão de propósito escondido. Bebeu as lágrimas dos olhos que, ninguém o sabia, estavam cheios de água.
O amor voltou para comer os papéis onde irrefletidamente eu tornara a escrever meu nome.
O amor roeu minha infância, de dedos sujos de tinta, cabelo caindo nos olhos, botinas nunca engraxadas. O amor roeu o menino esquivo, sempre nos cantos, e que riscava os livros, mordia o lápis, andava na rua chutando pedras. Roeu as conversas, junto à bomba de gasolina do largo, com os primos que tudo sabiam sobre passarinhos, sobre uma mulher, sobre marcas de automóvel.
O amor comeu meu Estado e minha cidade. Drenou a água morta dos mangues, aboliu a maré. Comeu os mangues crespos e de folhas duras, comeu o verde ácido das plantas de cana cobrindo os morros regulares, cortados pelas barreiras vermelhas, pelo trenzinho preto, pelas chaminés. Comeu o cheiro de cana cortada e o cheiro de maresia. Comeu até essas coisas de que eu desesperava por não saber falar delas em verso.
O amor comeu até os dias ainda não anunciados nas folhinhas. Comeu os minutos de adiantamento de meu relógio, os anos que as linhas de minha mão asseguravam. Comeu o futuro grande atleta, o futuro grande poeta. Comeu as futuras viagens em volta da terra, as futuras estantes em volta da sala.
O amor comeu minha paz e minha guerra. Meu dia e minha noite. Meu inverno e meu verão. Comeu meu silêncio, minha dor de cabeça, meu medo da morte."
João Cabral de Melo Neto

Como tratar o que se tem
"Existe um ser que mora em mim como se fosse casa sua, e é. Trata-se de um cavalo preto e lustroso que apesar de inteiramente selvagem - pois nunca morou em ninguém nem jamais lhe puseram rédeas nem sela - apesar de inteiramente selvagem tem por isso mesmo uma doçura primeira de quem não tem medo: come às vezes na minha mão. Seu focinho é úmido e fresco. Eu beijo o seu focinho. Quando eu morrer, o cavalo preto ficará sem casa e vai sofrer muito. A menos que ele escolha outra casa que não tenha medo do que é ao mesmo tempo selvagem e suave. Aviso que ele não tem nome: basta chamá-lo e se acerta com seu nome. Ou não se acerta, mas uma vez chamado com doçura e autoridade ele vai. Se ele fareja e sente que um corpo é livre, ele trota sem ruídos e vai. Aviso também que não se deve temer o seu relinchar: a gente se engana e pensa que é a gente mesmo que está relinchando de prazer ou de cólera."
Clarice Lispector
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Perguntinhas
Por que ser o que não quer que sejam?
Por que o porco é também porca?
Por que tão feliz com minhas unhas carmim?
Por que humor mais ácido com o "de boa"?
Por que tanta dureza no coração, hã?
Por que dançar põe as costas no lugar?
Por que pesadelos por aí?
Por que um só mísero reggaeton?
Por que tão leve e intenso assim?
Por que não?
Por que tudo é sempre tão rotulado?
Por que pergunto?
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